De uns anos para cá, é inegável o aumento da circulação de bicicletas nas ruas brasileiras. O objeto, que sempre foi o presente dos sonhos para a maioria das crianças, agora se tornou um meio de transporte bastante utilizado nas grandes e pequenas cidades. Estudo realizado pelo Sistema de Informações da Mobilidade Urbana (Simu) e divulgado pela Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP) aponta que, em dez anos, o uso das magrelas no país dobrou: se em 2004, as viagens totalizavam 1,3 bilhão, em 2014, esse número passou a representar 2,6 bilhões dos trajetos. Os dados revelam a preocupação cada vez maior que os poderes públicos têm em desafogar o trânsito, sobretudo nos grandes centros.
Na cidade que lidera o ranking de pior congestionamento do país, Niterói, Região Metropolitana do Rio, a estatística não é diferente: entre o quarto trimestre de 2016 e o mesmo período no ano seguinte, o crescimento na utilização do modal foi de 61,96%, segundo dados do relatório divulgado pelo site Mobilidade Niterói. Embora as bicicletas venham ganhando cada vez mais espaço, contribuindo para a melhoria dos constantes engarrafamentos, a segurança dos ciclistas ainda não é ideal.
O universitário Ramón Lacerda, natural de Salvador, faz parte desse grupo há um ano e meio, motivado principalmente pela questão ambiental e pela economia de dinheiro. Durante esse tempo, não foram poucas situações de risco pelas quais passou: batidas de ombro em ônibus, quedas, atropelamento e até ameaças seguem o estudante pelos caminhos por onde pedala. Para ele, isso acontece devido à falta de informação.
“A prefeitura poderia investir ainda mais em políticas de conscientização. As ciclofaixas são apenas pintadas e, na maioria das vezes, estão apagadas por causa do tempo. Por isso, muitos motoristas utilizam a via destinada aos ciclistas como estacionamento ou como passagem mesmo”, relata. “Isso acontece ou porque as pessoas não sabem para que serve a área delimitada ou porque, se utilizarem, sabem que não serão punidas”, critica.
Em novembro do ano passado, o universitário sofreu um acidente por causa do descaso que muitos motoristas têm com os ciclistas. “Eu estava pedalando na ciclofaixa e uma moto me atropelou. O pior de tudo foi ter sido deixado no chão e o motociclista ter fugido sem nem prestar socorro”, conta. O resultado? Lesões de média gravidade na perna e no pé direito, além de danos na bicicleta. “É muito assustador saber que isso acontece com várias pessoas todos os dias”, comenta.
Felizmente, os riscos passados por Verônica Alonso, de 26 anos e ciclista há dez, sempre ficaram no “quase”: por pouco nunca caiu e nem foi atropelada. A professora também tem um carro, utilizado apenas para emergências, já que, para ela, mesmo que os perigos sejam constantes, a bicicleta é o melhor meio de transporte: “menos poluente, traz mais benefícios à saúde, mais barato e, muitas vezes, mais rápido”, define. “Apesar de nunca ter sofrido
um acidente, percebo que os motoristas e até os pedestres não entendem a importância da ciclofaixa. Então, acho que ainda falta mais incentivo da cidade, sinalizações, vias exclusivas e informação”, ressalta a professora.
Com o objetivo de mudar essa realidade e incentivar cada vez mais o uso das bicicletas, a prefeitura criou o programa Niterói de Bicicleta, em 2013.
A iniciativa é estruturada em dois pilares: um de infraestrutura, que abrange ações relacionadas ao planejamento necessário para a locomoção e o estacionamento de bicicletas; e o segundo, cultural-educativo, cuja finalidade é promover ações de estímulo e de conscientização sobre o uso de bicicletas.
Felipe Simões, assistente de projetos do programa, explica que não é possível especificar o número exato de ciclistas, mas que o volume de pessoas que utilizam as bicicletas definitivamente aumentou. “A gente estima que, entre 2015 e 2017, as principais ciclovias, que são na Avenida Amaral Peixoto e na Avenida Roberto da Silveira, tiveram um aumento de 49% e 69% do fluxo de ciclistas”, conta.
Atualmente, Niterói oferece 446 vagas no bicicletário, localizado no Centro, e mais 1500 espaços nas ruas. Segundo o assistente, isso gerou uma ampliação de 50% na circulação das magrelas pela cidade. “Mesmo que não abra rotas, a extensão desses espaços colabora para a demanda dos ciclistas”, destaca. Além disso, o município dispõe de 40 quilômetros de malha cicloviária e totens para pequenos reparos espalhados pelas vias. Nos próximos anos, o programa pretende continuar promovendo o uso das bicicletas, através da implantação de uma infraestrutura cada vez maior e melhor para o município e da produção de eventos informativos.