Um café curto e a conta, por favor!
Essa forma tão tradicional de falar com o garçom pode estar com os dias contados dentro de espaços que adotam a economia colaborativa. A ordem é inovar e dividir experiências. Esqueça todo tipo de cafeteria convencional que você já conheceu. Em vez do silêncio e tranquilidade, a descontração e socialização tomam conta das dezenas de mesas compartilhadas do Curto Café. Lá não existem baristas, caixas para efetuar cobranças, fiscalização, nem mesmo funcionários uniformizados, pelo contrário, espera-se que cada um tenha a liberdade de escolher a sua própria experiência.
A partir das inovações no pensamento humano, surgem conceitos interessantes, antes inimagináveis, devido aos seus moldes pouco tradicionais. A economia colaborativa é um ótimo exemplo. Essa ideia surge de um ponto inicial que é compartilhar e, a partir disso, algumas vantagens ficam evidentes nesse tipo de negócio. Transitando em espaços comerciais e em ambientes de trabalho descontraídos, é um engano pensar que o custo mais baixo é o maior dos atrativos dessa nova forma de consumo.
Em seus primórdios, dentro de uma churrascaria em Volta Redonda, RJ, o embrião do que seria o Curto Café já era um local diferenciado e não estabelecia a tabela de preço, deixando a critério de seus clientes. Atualmente, é simplista limitar o empreendimento aos grãos que vêm de uma fazenda de produção exclusiva no estado do Espírito Santo e garantem o aroma único de um café forte e frutado, inconfundível nos corredores do Edifício Garagem Menezes Côrtes, no Centro do Rio, onde o espaço compartilhado existe há quase cinco anos.
Com seus produtos dispostos de forma pensada para que os clientes tenham a autonomia de pegá-los e pagá-los, hoje o Curto oferece opções como pizzas, sanduíches e até mesmo chopp, garantindo o sucesso durante a happy hour dos incontáveis trabalhadores localizados nos prédios empresariais do Centro. “O Curto não é só um lugar para tomar café, vai muito além disso e essa percepção que fica na cabeça das pessoas não é imposta, é natural”, como afirma Philippe Miura, um dos idealizadores do espaço.
Deve se ressaltar que a concepção de pegar e pagar os próprios brownies ou de fazer o próprio café, por exemplo, nunca será uma unanimidade. “Sempre vai ter alguém que sente a necessidade de chegar a um lugar e ser atendido, ser servido e receber toda a atenção de um funcionário e acredito que esse seja o único público que não é o nosso alvo”, conclui Phillipe.
Contrastando com a falta de funcionários como em ambientes mais tradicionais, o espaço do Curto Café proporciona experiências curiosas em que os próprios clientes mais antigos ajudam os que ainda desconhecem o funcionamento do empreendimento. Esse caráter de independência individual faz com que cada pessoa que esteja lá contribua para o clima de descontração do lugar. “Tem clientes que estão no seu horário livre do trabalho e vêm ao Curto apenas para utilizar as máquinas de café e espairecer, simplesmente porque gostam de fazê-lo”, orgulha-se Phillipe.
Os princípios da economia colaborativa não se limitam a ambientes de descontração e socialização como os cafés. Suas fronteiras podem se expandir e alcançar iniciativas que visam a produtividade no trabalho em um ambiente moderno, bem estruturado e que tenha seus olhos voltados para o networking. Esse é um dos princípios dos espaços de coworking, cada vez mais populares.
Esses locais são pensados para acolher qualquer tipo de profissional que se sinta atraído pelo aspecto caseiro e seduzido pelas vantagens que se iniciam no preço do aluguel do espaço e se estendem até a flexibilidade de horários incomuns no meio empresarial. O fato é que esses ambientes, muito por conta da preocupação com a existência de áreas de convivência comuns, resultam em uma pluralidade de ideias e debates entre funcionários de empresas diferentes. Profissionais de setores distintos podem tirar proveito de ideias vindas de pessoas com uma perspectiva diferente de mercado.
Quem passa pelo número 93 da Rua da Matriz, em Botafogo, mal imagina que um casarão antigo, com uma estreita porta de entrada, abriga diariamente mais de 100 funcionários de diversas empresas em busca das melhores condições possíveis de produtividade. Essa é a realidade do Space Coworking, um dos mais antigos do Rio, que foi se moldando com o tempo e hoje é um grande case de sucesso quando se fala sobre o assunto.
Em 2013, o coworking ainda era um conceito inexplorado, e dessa forma, o Space não foi criado exatamente com a finalidade que atingiu hoje. “ A ideia do Space, na verdade, não era ser um coworking e sim uma casa onde os sócios que tinham mais negócios deixavam suas empresas em um mesmo espaço onde poderiam trocar experiências entre si”, explica Lucas Ricardo Pires, sócio operacional do local. A expansão foi acontecendo de forma natural, completamente orgânica, e cada vez mais empresas passaram a se interessar pelo conceito de trabalho desenvolvido no casarão. A demanda fez com que os sócios adquirissem um imóvel vizinho e idêntico ao original. Zonas do imóvel foram completamente repensadas e reformuladas e, dessa forma, o ambiente passava cada vez mais a se consolidar como um dos primeiros coworkings do Rio de Janeiro.
Ambientes coloridos, grandes bancadas compartilhadas, opções de lazer, relaxamento e áreas de convivência comum são alguns dos elementos que ajudam a caracterizar esse conceito recente e que ainda pode ser confuso para algumas pessoas. Em meio à salas personalizadas habitadas por um ou mais empresas, pode-se observar áreas de café, um cômodo dedicado a uma grande televisão com um videogame e até mesmo uma pequena e aconchegante biblioteca para quem necessita de um momento de reflexão ou simplesmente um lugar silencioso para uma ligação via Skype. Além de toda a estrutura, os sócios sempre tiveram a preocupação de propor a interação entre seus tão diversos clientes e propõe ações como o “bolinho de sexta”, tradição plural e proveitosa, que reúne todos para um café da tarde.
“A ideia do coworking é ser um ambiente em que você consiga economizar dinheiro em relação a um lugar próprio, consiga economizar tempo ao não precisar administrar várias contas, boletos e micro serviços como manutenção, limpeza, água, café. Tudo isso somos nós quem pensamos para as empresas”, esclarece o sócio. Ter a cabeça livre dessas pequenas preocupações é um grande atrativo de se trabalhar em um lugar assim e, somado a isso, a flexibilidade é algo diferente de qualquer prédio empresarial que segue os moldes tradicionais.
Um exemplo da importância da flexibilidade nesse ramo é o próprio horário de funcionamento do Space. Inicialmente, a casa abria de segunda a sexta,das 8h às 18h. Entretanto, a partir das demandas dos clientes foi entendido que o horário deveria ser mais dilatado e foi esticado até as 21:30h. Nos fins de semana, se necessário, os sócios também estão dispostos a abrir o casarão em horários específicos, caso algum cliente precise fazer uma reunião ou utilizar algo do coworking.
Os negócios pautados pela economia compartilhada não se limitam a espaços como cafés e coworkings. Um lugar de destaque quando se aborda o assunto é a Vila do Largo, localizada no Largo do Machado, entre os bairros do Catete e Laranjeiras. O local já pode ser considerado um pólo de economia colaborativa e conta com ateliês, empresas, cursos, espaços para exposições, além dos café e das áreas de convivência internas.
A vila foi comprada há 17 anos e o seu idealizador, Carlos Rangel, reformou aos poucos o que viria a ser hoje um ambiente composto por 36 casas. “Minha ideia não era revitalizar a arquitetura, até porque ela não existia, eram casebres. O que propus foi a preservação da filosofia do viver em vila, a parte imaterial daquele espaço”, aponta Carlos. Toda a estrutura planejada pelo dono possibilita a ocupação de empresas e projetos dos mais diversos segmentos que buscam uma forma moderna de estarem inseridos no mercado. A pluralidade da vila também é um dos fatores que atraem seus “moradores” e como mandam os moldes da economia colaborativa, o networking está sempre presente e a troca de informações entre pessoas de diferentes áreas estimula o pensamento e sugere um ambiente de soluções criativas.
A tecnologia também marca presença quando falamos em economia compartilhada. Esses conceitos não se limitam a espaços físicos e o aparecimento de múltiplos aplicativos dos mais variados serviços também se enquadram nessa nova realidade com opções para deslocamentos curtos ou longos, compra de produtos, aluguel de espaços, roupas e muito mais, disponíveis aos usuários dos smartphones.
A economia pensada como uma experiência personalizada e com cada vez maior participação dos envolvidos já é uma realidade em todo o mundo. A eliminação de mediadores entre quem consome e presta o serviço diminui custos, flexibiliza as condições dos negócios e resulta em um melhor aproveitamento do tempo com menos burocracia, segundo empresários do ramo. É correto afirmar que esse molde não é para qualquer tipo de pessoa, no entanto, são boas evidências de uma possível tendência das relações comerciais exercidas no planeta.