Darwin passou por aqui: EcoArte apresenta Caminho de Darwin

Arte da capa por Mariana Bittencourt

 

Por Ana Luísa Vasconcellos

“Vamos conhecer os animais do Parque Estadual da Serra da Tiririca? Esse Parque é o fragmento de mata mais rico em diversidade de fauna da região metropolitana do Rio de Janeiro!”. O convite é de Jacqueline Ribeiro, uma das guias locais do projeto EcoArte, que apresenta o Caminho de Darwin para crianças e adolescentes da rede pública de ensino. A trilha ecológica, localizada nos municípios de Niterói e Maricá, faz parte do Parque Estadual da Serra da Tiririca (PESET) e foi o caminho realizado pelo britânico Charles Darwin, desbravador de terras fluminenses à época de suas pesquisas sobre a Seleção Natural. Criado em 2020, o Projeto EcoArte apresenta o Caminho de Darwin em um tour virtual e busca resgatar um pouco dessa história  e estimular jovens a serem, também, desbravadores da natureza. 

O naturalista, geólogo e biólogo Charles Darwin, responsável por formular uma das teorias mais importantes da biologia, já foi um jovem viajante e pesquisador que, aos 23 anos, desbravou caminhos pelo Rio de Janeiro em busca de pistas para o livro a “Origem das Espécies pela Seleção Natural”. Esse caminho existe até hoje e abriga a vida de várias espécies estudadas pelo cientista lá em 1831, quando Darwin fez uma expedição por vários países ao redor do mundo, incluindo uma estadia no Brasil. O momento foi crucial para o desenvolvimento de sua teoria da Seleção Natural das Espécies. Saindo da Inglaterra com o navio HSM Beagle, o naturalista permaneceu em terras fluminenses de 4 de abril até 5 de julho, segundo a geóloga Kátia Leite Mansur, consultora da Edição Especial Caminhos de Darwin da TV Escola.

 

EcoArte

Em 2020, o projeto EcoArte foi lançado na região como uma ação de educação ambiental, estimulando crianças e adolescentes a conhecerem o patrimônio cultural e ambiental do Caminho Darwin e criarem uma visão sobre sustentabilidade e preservação do meio ambiente. Com o foco voltado às escolas da rede pública do Rio de Janeiro, o projeto produziu documentários audiovisuais para apresentar o caminho, sua geografia e hidrografia, além dos aspectos históricos e culturais da região. 

EcoArte apresenta o Caminho de Darwin
Guias locais do projeto EcoArte apresenta o Caminho de Darwin na série de vídeos Conhecendo o Caminho de Darwin | Foto: Felipe Queiroz

Entre os trabalhos realizados, estão os vídeos da série “Conhecendo o Caminho de Darwin”, que apresentam o espaço passo a passo para o espectador, que é conduzido pelos guias locais Jacqueline Ribeiro e Luiz Allochio. Apesar de desbravado por Darwin no século XIX, o local abriga uma história muito mais antiga, como evidencia o condutor local.

“As montanhas que formam a Serra da Tiririca e o próprio Caminho de Darwin, em que o ponto mais alto tem 125 metros, são evidências do choque entre os continentes Sulamericano e Africano que ocorreu há 700 milhões de anos, dando origem a um supercontinente: o Gondwana”, explica Luiz Allochio

Jacqueline Ribeiro, por sua vez, apresenta a fauna e flora da região. O Parque abriga nada menos do que 1048 espécies de plantas, como as nativas Pau-Brasil, Ipê e Jequitibá Rosa. “A gente tem na natureza três tipos de florestas ombrófilas e a mata do PESET se caracteriza como Floresta Ombrófila Densa. Nesse tipo de floresta praticamente não falta água no decorrer do ano e, normalmente, está associada aos ecossistemas do mangue, do brejo e das restingas”, relata Jacqueline Ribeiro. 

Além de ensinarem muito sobre a fauna e flora do lugar, os dois ainda contam curiosidades da região e apresentam a riqueza histórica do espaço, sua geologia e hidrologia. O EcoArte também produziu um curta-metragem chamado “SobreVoar no Caminho de Darwin”, com atuação de Fábio Rocha Pina e Júlio Torto que contam a história de aves da região. No Canal do Youtube do projeto, ainda estão disponíveis vídeos com oficinas de artesanato sustentável e também oficinas de teatro.

EcoArte apresenta o Caminho de Darwin
O curta-metragem SobreVoar no Caminho de Darwin conta com atuação de Fábio Rocha Pina e Júlio Torto do Grupo Teatralmente | Foto: Felipe Queiroz

Geração Sustentável

A idealizadora e gestora Bruna Galassi teve a ideia do projeto a partir de sua vivência pessoal, já que morou na região, e a partir do desejo de levar esse conhecimento para outras pessoas. “Tenho uma história de gratidão desde criança com esse lugar incrível e valorizo muito o que temos conseguido manter preservado na nossa cidade”, explica. Galassi já havia trabalhado em outros projetos no Parque, mas nunca a partir do viés cultural. Foi, anteriormente, coordenadora de uso público do PESET, conhecendo as demandas dessa unidade de conservação. Idealizado antes da pandemia, as ações presenciais planejadas foram adaptadas a um novo formato.

“Foi muito difícil ficar com toda uma equipe parada, sem estimativa de retorno das atividades. Essa reaproximação com o público, mesmo que de forma virtual, fez um bem enorme para todos nós. E temos a consciência que o conteúdo que está sendo produzido poderá ser acessado por um número ainda maior de pessoas e que poderá ser trabalhado inclusive com as futuras gerações”, afirma Bruna Galassi

A educação e a sustentabilidade são dois valores sedimentares para a equipe e tudo é planejado de forma lúdica e divertida para gerar reflexão nas crianças sobre a natureza. A produção audiovisual disponível nas redes sociais e no YouTube do projeto conta com audiodescrição e Libras. Nas escolas, as novas gerações são incentivadas a despertarem o espírito inovador e a sustentabilidade.

A equipe vê essa possibilidade de mudança de forma esperançosa, a exemplo de Jacqueline Ribeiro, que conta um pouco sobre seu carinho com o espaço: “A minha relação com o Caminho de Darwin é de muito amor, respeito e de cuidado. Queremos que as pessoas consigam perceber o valor que a gente tem aqui enquanto patrimônio natural”, afirma. Bruna Galassi ainda completa: “A transformação cultural que queremos não é apenas de uma educação pela arte, mas também de uma educação para a arte. É essa multiplicidade que hoje vivenciamos, que nos conecta e nos possibilita redescobrir novas formas de aprender e de aprender a ensinar”, opina.

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