Enfermaria, ortopedia, UTI, setor de queimados, centro cirúrgico e… sala do Mais Leitura. No Hospital Estadual Vereador Melchiades Calazans, em Nilópolis, na Baixada Fluminense, os livros do Projeto Mais Leitura fazem parte do conjunto de elementos imprescindíveis para assegurar o tratamento humanizado de quem está internado. Com diversos títulos disponíveis para empréstimo, toda a comunidade do hospital usufrui de um ambiente de valorização da leitura
e de aprendizado constante, enquanto os pacientes se recuperam.
Criada em 2015, fruto de parceria entre a Imprensa Oficial do Rio de Janeiro e a Secretaria estadual de Saúde, o Mais Leitura, Mais Saúde também vem surtindo efeito em pacientes de outros três hospitais públicos estaduais: o de Anchieta, o Getúlio Vargas e o Carlos Chagas. Nas quatro unidades foram criadas bibliotecas gratuitas, disponibilizando ao todo 2.500 livros que são oferecidos como parte do tratamento.
“Dentro da área emocional, principalmente de alguns pacientes que não têm condição de receber visita, a leitura auxilia no sentido de eles se perceberem importantes, valorizados e de poderem trocar. Assim, podem trazer questões e dar opiniões, o que proporciona uma valorização da autoestima deles, para que saiam daqui com uma visão mais ampla”, explicou a psicóloga Kátia Lanosa, de 51 anos, que também pega livros emprestados na unidade de Nilópolis.
Coordenadora do Mais Leitura, Vanêssa Geraldo, reconhece a importância de facilitar o acesso à cultura a pessoas que estão em processo de recuperação.
“Ter a oportunidade de disponibilizar parte do nosso acervo em hospitais é muito gratificante, considerando que muitos pacientes precisam de entretenimento e acolhimento. É mais uma forma de o projeto cumprir sua missão”, enfatizou Vanêssa.
No Hospital Vereador Melchiades Calazans, o Mais Leitura, Mais Saúde funciona na ortopedia e no setor de queimados. Como muitos têm tempo de recuperação prolongado e costumam passar bastante tempo no leito – a maioria sem acompanhante -, os livros se tornam os grandes parceiros. Com longo período de recuperação pela frente após se queimar em um acidente doméstico, a paciente Fabiana Santos, de 24 anos, fica animada ao comentar sobre o livro que pegou na biblioteca do projeto.
“Foi na escola que li pela primeira vez. A professora estava nos ensinando e me pediu para ler a primeira página. No começo, eu fui falando tudo errado. Ela me deu o livro da Mônica e, quando eu li a folha toda, ela me deu parabéns. Até hoje eu gosto muito de ler e escrever, mando cartas para todo mundo, do que vem do meu coração. Eu expresso tudo o que sinto sobre a pessoa, uso a escrita para mostrar meus sentimentos. Me traz felicidade poder ler e escrever”, relatou.
O hospital de Nilópolis foi inaugurado em junho de 2017 e passou por uma grande reforma ao lado da Organização Mahatma Gandhi, que mudou a estrutura e o perfil dos atendimentos. Hoje, realiza, em média, mais de 300 cirurgias por mês nos setores de ortopedia e de queimados. É a parceria com a Imprensa Oficial do Rio de Janeiro que garante que 140 títulos já estejam disponíveis na unidade, onde são colocados na Sala do Mais Leitura e catalogados, para que os leitores possam ter uma pequena sinopse do livro antes de fazerem
o empréstimo.
Duas vezes por semana, a funcionária da ouvidoria Gabriele Ramos passa de leito em leito com o carrinho de livros. Lidar com eles em um ambiente hospitalar tem certas especificidades, como explica a gerente de qualidade da organização, Luciana Maria Costa: “Depois de devolvido, ele sofre um processo de quarentena e desinfecção de 40 dias e, só depois desse processo, que é feito com luvas e álcool, pode voltar
para estante”.
Além de fazer parte do ambiente de quem está internado, os livros ainda circulam nas mãos de toda a equipe médica, que pode levá-los para casa. Para a enfermeira Lizangela Sampaio, de 45 anos, o acesso à leitura se torna mais fácil e direto com o projeto.
“Para nós, que vivemos a área da saúde, é necessário ler para se atualizar sobre os temas. É sempre bom pegar um livro que tenha histórias que passam pelo que vivenciamos no nosso cotidiano e também para nos ajudar a distrair. A literatura para mim é tanto profissional quanto para entretenimento”.
Na unidade, o projeto chegou há apenas cinco meses, mas a gerente de qualidade Luciana Maria Costa acredita que a adesão já é ampla e tende a aumentar. “Essa forma de terapia tem um bom engajamento, mesmo sendo muito nova. Já faz sucesso com os colaboradores, mas a participação é progressiva, costuma crescer quanto mais as pessoas sabem da existência dele. Nós, da equipe de qualidade de atendimento, pensamos a humanização do paciente e a integração do colaborador e queremos cada vez mais expandir esse projeto para outros hospitais”, planeja Luciana.