Conhecendo o Flag

Arte da capa por Rayssa Sanches

Por  Júlia Cruz

Flagball, flagbol, flagfootball, flagfootbol ou simplesmente flag. São muitas as formas para chamar o esporte variante do futebol americano, mas com menos contato físico. No flag, é necessário retirar uma das fitas (flags, em inglês) amarradas na cintura do oponente para paralisar a jogada, enquanto no futebol americano o lance é interrompido derrubando o jogador adversário. Sendo assim, o flag evita o encontro entre os participantes, diminuindo o risco de lesões.

O objetivo do flag permanece o mesmo do futebol americano, marcar a pontuação máxima, chamada de touchdown. Para isso, é necessário lançar ou correr com a bola para avançar pelo campo, chegando ao final do território adversário, a endzone. Assim como no esporte de origem, a bola utilizada é a oval.

 

Equipamentos necessários para jogar flag. Arte: Rayssa Sanches.

 

O esporte começou a ser jogado em bases militares norte-americanas na década de 40. Logo, era possível que os soldados jogassem a tradicional modalidade de seu país evitando contusão. No Brasil, a atividade chegou em 1999, quando os professores de educação física Paulo Arcuri e Cláudio Tesleca a introduziram em suas aulas.

 

Vantagens do esporte

Devido ao menor confronto corporal entre os jogadores, o flag se apresenta como uma prática viável para aulas de educação física nas escolas. Cláudio Tesleca, um dos precursores do esporte no país, conta que outras vantagens são o menor número de pessoas necessário para jogar, os equipamentos mais acessíveis em comparação com o futebol americano e a manutenção do uso de estratégias nas jogadas.

O professor diz que há diferentes categorias dentro do flag, podendo jogar desde quatro contra quatro até onze contra onze, em diferentes tamanhos de campo, de acordo com a necessidade. “Por exemplo, quatro contra quatro foi adaptado para quadras poliesportivas escolares da rede pública municipal e estadual”, comenta. Mas o uso do pensamento tático de jogo permanece em qualquer categoria.

 

Para paralisar uma jogada no flag é necessário retirar uma das bandeiras do oponente. Arte: Rayssa Sanches.

 

Por ser um esporte de estratégia, todos os jogadores são importantes para o desenvolvimento de uma boa jogada. Com isso, o mestre em educação física, Rodrigo Perfeito ainda vê outro benefício da prática do flag nas escolas: o envolvimento de todos os alunos.

Ele explica que, com o planejamento tático, é possível cada estudante ter sua tarefa dentro da estratégia, usando, por exemplo, a inteligência para contrapor uma aptidão que precisar ser aprimorada, como a força, a velocidade e a habilidade com a bola. Dessa forma, alunos de ambos os sexos e com diferentes características de peso, altura e habilidade podem jogar juntos.

Por fim, Rodrigo pontua que os esportes escolares precisam respeitar a teoria das cinco liberdades, que consiste na competitividade, criatividade, inclusão, capacidade de escolha e ausência de agressividade. O flag cumpre as cinco exigências.

 

Jogador de Flag da Associação Educacional Voz Ativa.

 

Flag na prática

No ano de 2016, uma pesquisa aplicada em mais de 400 famílias de escolas estaduais de Manaus mostrou que os alunos não estavam felizes no ambiente acadêmico. O professor de sociologia Girleno Menezes, preocupado com a evasão escolar, decidiu iniciar um projeto para manter os alunos na escola. Assim surgiu o Futebol Americano nas Escolas (FAE), um dos seis projetos da Associação Educacional Voz Ativa, que atende mais de 300 jovens na periferia da capital amazonense.

A escolha de Girleno pelo futebol americano se deu por influência do filho, professor de educação física e apaixonado pelo esporte, além da procura por uma atividade diferente. “Há muitas equipes de futsal, mas futebol americano era algo inédito. O futebol americano também inclui pessoas de todos os tamanhos, pesos e gêneros”, justifica Girleno.

 

Jogadoras de Flag da Associação Educacional Voz Ativa.

 

Mas os valores gastos com os treinos se tornaram um fardo para o professor que, sem patrocínio, buscou financiar o projeto pedindo dinheiro nos semáforos e trabalhando como motorista de aplicativo. O flag foi a opção para manter a essência do futebol americano pagando menos.

Com os treinos, Girleno quer ocupar o tempo livre dos jovens com algo poderoso o bastante para transformar vidas. Fabrício Vasconcellos é um desses jovens. O rapaz de 22 anos afirma que nunca teve muito destaque em outros esportes, como o futebol e o vôlei, mas se encontrou com o flag. “É muito boa a emoção e a adrenalina que sinto ao jogar. E é muito legal me destacar na modalidade e falarem que sou bom nisso”, assegura. Fabrício relata que a atividade o motivou a ser uma pessoa melhor. Hoje, o promotor de vendas também auxilia Girleno atuando como apoio para o projeto de flag nas escolas.

Os treinos de flag começaram no final de 2021 com a atenuação da pandemia. O FAE Flag Football está implantado em dez escolas estaduais de Manaus. O objetivo de Girleno é ampliar a prática da modalidade e transformar jovens da comunidade em novos atletas.

 

Sede da Associação Educacional Voz Ativa.

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