Arte da capa por Rayssa Sanches
Por Júlia Cruz
Flagball, flagbol, flagfootball, flagfootbol ou simplesmente flag. São muitas as formas para chamar o esporte variante do futebol americano, mas com menos contato físico. No flag, é necessário retirar uma das fitas (flags, em inglês) amarradas na cintura do oponente para paralisar a jogada, enquanto no futebol americano o lance é interrompido derrubando o jogador adversário. Sendo assim, o flag evita o encontro entre os participantes, diminuindo o risco de lesões.
O objetivo do flag permanece o mesmo do futebol americano, marcar a pontuação máxima, chamada de touchdown. Para isso, é necessário lançar ou correr com a bola para avançar pelo campo, chegando ao final do território adversário, a endzone. Assim como no esporte de origem, a bola utilizada é a oval.
![](https://oprelo.ioerj.com.br/storage/2022/02/flag-infografico-300x169.png)
O esporte começou a ser jogado em bases militares norte-americanas na década de 40. Logo, era possível que os soldados jogassem a tradicional modalidade de seu país evitando contusão. No Brasil, a atividade chegou em 1999, quando os professores de educação física Paulo Arcuri e Cláudio Tesleca a introduziram em suas aulas.
Vantagens do esporte
Devido ao menor confronto corporal entre os jogadores, o flag se apresenta como uma prática viável para aulas de educação física nas escolas. Cláudio Tesleca, um dos precursores do esporte no país, conta que outras vantagens são o menor número de pessoas necessário para jogar, os equipamentos mais acessíveis em comparação com o futebol americano e a manutenção do uso de estratégias nas jogadas.
O professor diz que há diferentes categorias dentro do flag, podendo jogar desde quatro contra quatro até onze contra onze, em diferentes tamanhos de campo, de acordo com a necessidade. “Por exemplo, quatro contra quatro foi adaptado para quadras poliesportivas escolares da rede pública municipal e estadual”, comenta. Mas o uso do pensamento tático de jogo permanece em qualquer categoria.
![](https://oprelo.ioerj.com.br/storage/2022/02/flag3-300x169.png)
Por ser um esporte de estratégia, todos os jogadores são importantes para o desenvolvimento de uma boa jogada. Com isso, o mestre em educação física, Rodrigo Perfeito ainda vê outro benefício da prática do flag nas escolas: o envolvimento de todos os alunos.
Ele explica que, com o planejamento tático, é possível cada estudante ter sua tarefa dentro da estratégia, usando, por exemplo, a inteligência para contrapor uma aptidão que precisar ser aprimorada, como a força, a velocidade e a habilidade com a bola. Dessa forma, alunos de ambos os sexos e com diferentes características de peso, altura e habilidade podem jogar juntos.
Por fim, Rodrigo pontua que os esportes escolares precisam respeitar a teoria das cinco liberdades, que consiste na competitividade, criatividade, inclusão, capacidade de escolha e ausência de agressividade. O flag cumpre as cinco exigências.
![](https://oprelo.ioerj.com.br/storage/2022/02/Voz-ativa-1-300x293.jpeg)
Flag na prática
No ano de 2016, uma pesquisa aplicada em mais de 400 famílias de escolas estaduais de Manaus mostrou que os alunos não estavam felizes no ambiente acadêmico. O professor de sociologia Girleno Menezes, preocupado com a evasão escolar, decidiu iniciar um projeto para manter os alunos na escola. Assim surgiu o Futebol Americano nas Escolas (FAE), um dos seis projetos da Associação Educacional Voz Ativa, que atende mais de 300 jovens na periferia da capital amazonense.
A escolha de Girleno pelo futebol americano se deu por influência do filho, professor de educação física e apaixonado pelo esporte, além da procura por uma atividade diferente. “Há muitas equipes de futsal, mas futebol americano era algo inédito. O futebol americano também inclui pessoas de todos os tamanhos, pesos e gêneros”, justifica Girleno.
![](https://oprelo.ioerj.com.br/storage/2022/02/Voz-ativa-3-300x197.jpeg)
Mas os valores gastos com os treinos se tornaram um fardo para o professor que, sem patrocínio, buscou financiar o projeto pedindo dinheiro nos semáforos e trabalhando como motorista de aplicativo. O flag foi a opção para manter a essência do futebol americano pagando menos.
Com os treinos, Girleno quer ocupar o tempo livre dos jovens com algo poderoso o bastante para transformar vidas. Fabrício Vasconcellos é um desses jovens. O rapaz de 22 anos afirma que nunca teve muito destaque em outros esportes, como o futebol e o vôlei, mas se encontrou com o flag. “É muito boa a emoção e a adrenalina que sinto ao jogar. E é muito legal me destacar na modalidade e falarem que sou bom nisso”, assegura. Fabrício relata que a atividade o motivou a ser uma pessoa melhor. Hoje, o promotor de vendas também auxilia Girleno atuando como apoio para o projeto de flag nas escolas.
Os treinos de flag começaram no final de 2021 com a atenuação da pandemia. O FAE Flag Football está implantado em dez escolas estaduais de Manaus. O objetivo de Girleno é ampliar a prática da modalidade e transformar jovens da comunidade em novos atletas.
![](https://oprelo.ioerj.com.br/storage/2022/02/WhatsApp-Image-2021-12-28-at-13.13.19-e1647885275581-300x297.jpeg)